No Brasil, essa afinidade entre música e poesia torna-se explícita quando analisamos a obra e a trajetória de Vinícius de Moraes, o “poetinha”, que circulou livre e apaixonadamente entre as duas modalidades artísticas.
Além de poetas que fazem música e músicos que fazem poesia, encontramos outra forma de casamento entre música e poesia nas releituras musicais de textos da tradição poética. Renato Russo, por exemplo, tinha um grande talento para revitalizar e popularizar poemas antigos em suas canções, como fez com o célebre soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” (1595), de Luís Vaz de Camões (1524-1580), considerado o maior poeta da língua portuguesa:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?